Alguns ditados populares ditos em família, muitas vezes em tom de brincadeira, tem o grandioso poder de estabelecer um contrato psicológico entre os familiares e reger o relacionamento interpessoal da organização. A “orientação” da “farinha pouca, meu pirão primeiro” fica pior quando vinda dos pais e fundadores da empresa familiar, pois estabelecem o entendimento tácito do salve-se quem puder. Em organizações que adotam este tipo de cultura é comum verificar os parentes tentando tirar vantagem uns sobre os outros, principalmente quando consideram que os recursos da empresa não serão suficientes para sustentar a todos.
A cultura organizacional da empresa familiar é em grande parte a história da saga da família empresária. Os contos dos avós de como chegaram até ali, as lembranças das dificuldades dos pais nos primeiros anos da empresa, os erros e acertos efetuados de forma intuitiva, tudo isso relatado em forma de história nos encontros da família vão legitimando práticas e condutas.
As cerimônias da empresa expressam e reforçam os valores daquela família, desta forma, a cultura da farinha pouca é entendida como o melhor fica para mim e o pior para você. A mensagem que será ouvida pelos funcionários é a de que os sócios estão preocupados apenas com eles próprios. E, não se engane, isso é repassado para os clientes como uma empresa mesquinha, que faz questão de coisas banais e que alega todos os benefícios concedidos.
Parece exagero, mas este é o ciclo estabelecido no processo de construção de cultura organizacional. O que é percebido como positivo, gera engajamento. O que é percebido como negativo gera frieza, distanciamento e insatisfação.
Porém, acredite, mudar é possível!
Primeiramente, é preciso admitir que existem falhas na comunicação e no comportamento e entender que a mudança deve partir das bases familiares. Geralmente, isso ocorre nos processos sucessórios quando uma nova liderança assume e se compromete com as relações baseadas em valores mais favoráveis.
Para curar condutas egocêntricas ou autoritárias na família nada melhor do que substituir o – farinha pouca, meu pirão primeiro, para o – um por todos, todos por um.
Imaginem o comprometimento das crianças que crescem ouvindo este lema! Isso vai contribuindo para que, aos poucos, uns se importem com os outros e, mesmo aqueles que não estão na empresa familiar recebam um tratamento cuidadoso e sejam lembrados no plano de organização familiar.
Fazer a gestão de uma empresa familiar não é apenas entender do negócio, da concorrência ou dos fatores que geram lucratividade, mas sobretudo, ter o compromisso na construção de sentimentos e emoções para as próximas gerações. Por isso, quando a farinha for pouca será preciso colocar mais água no pirão!
César Andrade – Fundador do Família Bem Sucedida.